terça-feira, 1 de maio de 2012

Resenha | O menino do pijama listrado

O menino do pijama listrado
Autor: John Boyne.
Tradução: Augusto Pacheco Calil.
Páginas: 186.
ISBN: 9788535911121.
Editora: Companhia das Letras.
Skoob

Sinopse:

Bruno tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os Judeus. Também não faz idéia de que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos de que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Bruno sabe apenas que foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Da janela do quarto, Bruno pode ver uma cerca, e, para além dela, centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com um frio na barriga.
"O Menino do Pijama Listrado" é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável.

Olá, leitores! Hoje eu vou comentar sobre um livro muito, muito, muito bom. Nada do que eu disser fará jus a essa fábula criada por John Boyne sobre o horror da guerra nazista sobre o prisma inocente de uma criança. Acompanhe-me até a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto Bruno ainda tinha sua casa em Berlim e podia brincar com seus três melhores amigos para a vida toda.

Quando Bruno chega, um dia, da escola ele descobre que a família está de mudança por causa do pai que recebeu uma missão do Fúria num lugar distante. Bruno não quer mudar de Berlim, ele adora aquela casa. Da janela de seu quarto, ele consegue ver as barraquinhas de frutas e as outras casas da redondezas, além de explorar todos os cantos de lá. Mas nada do que ele diz convence ninguém de que mudar é algo muito errado a se fazer. E eles vão parar numa casa cercada por uma floresta, onde da janela do quarto do garoto agora é possível ver uma cerca e vários homens andando lá dentro.

“Bem, às vezes, quando uma pessoa é muito importante”, prosseguiu a mãe, “o homem que o emprega lhe pede que vá a outro lugar, porque lá há um trabalho muito especial que precisa ser feito.”
Pág. 11.

Em cada capítulo do livro, somos apresentados a um personagem e sua história. Até mesmo as casas são apresentadas com suas caracterísitcas peculiares. Enquanto que a casa antiga é um parque de diversões cheio de lugares para se descobrir e cercado de vida, a outra é uma pedra fria largada em lugar nenhum, completamente solitária e sombria.

Gretel é um caso perdido e o relacionamento dela e Bruno é o típico entre um irmão mais novo e irmã mais velha. A garota tem uma consciência maior sobre o que acontece ao seu redor e não quer ser uma criança como o irmão. Principalmente quando o jovem e sério tenente Kotler está por perto. É com ela que Bruno vê sobre a janela de seu quarto a cerca. Eles observam as pessoas no campo com a sensação de que algo não está certo. Pensam se tratar apenas de fazendeiros, agricultores. Mas onde estão os animais e por que o solo é tão seco? O fato daquelas pessoas usarem o mesmo conjunto de roupas listradas é uma visão deslumbrante para Bruno.

Conhecemos Maria, a criada muito bem paga, que foi acolhida pelo pai de Bruno num momento de grandes dificuldades. E por isso tem uma dívida de honra para com ele e não permite que o patrão seja insultado na sua frente, mesmo que ele seja capaz de fazer coisas completamente desagradáveis. Há também o Pavel, o médico que agora é só um servente cortando batatas e outros legumes para o jantar da família.

Também conhecemos brevemente o Fúria, o governante do país que fez com que a família de Bruno mudasse para aquela casa. Sua passagem é rápida e o suficiente para dar arrepios. A avó de Bruno não fica nada feliz com a decisão do filho como descobrimos num flashback; sente que fez algo de errado durante sua criação para o filho ser capaz de aceitar um função carregada de vergonha para ela.

“Bruno teve certeza de jamais ter visto um menino tão triste e tão magro em toda a sua vida, mas decidiu que seria melhor conversar com ele.”
Pág. 96.

E, é claro, conhecemos Shmuel, um ponto que virou uma mancha que virou um vulto que virou um pessoa que virou um menino com pijama listrado. Enquanto a Bruno é permitido ser uma criança normal, na medida do que pode ser considerado normal à época, Shmuel tem uma noção maior, embora não completa, da realidade dura e terrível do seu povo nas mãos dos soldados alemães. Bruno é a representação da infância e Shmuel a perda dela. E aquela amizade com Bruno faz com Shmuel veja as coisas com uma nova perspectiva e tenha, por que não, esperanças.

A amizade de Bruno e Shmuel surge aos poucos, do reconhecimento dos garotos de suas semelhanças em meio ao mundo segregado em que vivem. Eles nasceram no mesmo dia e ano e tiveram suas vidas mudadas pela guerra. É durante as conversas através da cerca que os meninos esquecem seus problemas e tentam entender o mundo um do outro.

A narrativa consegue transmitir toda a inocência desse garoto explorador, que vive em seu próprio mundo imaginário e, aos poucos, vai conhecendo o real através das conversas com Shmuel e dos ensinamentos de seu professor particular. Ensinamentos esses que colocam várias dúvidas na cabeça do garoto. Os judeus são o mal, o inimigo, mas Shmuel não é nada disso. É apenas o seu amigo, o seu mais novo amigo para a vida toda.

É um livro emocionante, com um final muito tocante. Recomendo muito para quem quer dar uma parada nas leituras de entretenimento e pensar um pouco sobre o que é importante na vida. John Boyne, somente com esse livro lido dele, já me conquistou como leitor. Vale muito a pena ler esse livro e assistir o filme baseado nele, que é bastante fiel à história.

“O problema da exploração é que você precisa saber se aquilo que encontrou valeu a pena ser encontrado. Algumas coisas estão lá, cuidando da própria vida, esperando para serem descobertas. Como a América. Outras coisas é melhor que deixemos em paz. Como um rato morto no fundo do armário.”
Pág. 102.

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