Autor: John Boyne.
Tradução: Luiz Antônio de Araújo.
Páginas: 496.
ISBN: 9788535915051.
Editora: Companhia das Letras.
Sinopse:
A história da expedição do navio Bounty é narrada do ponto de vista de John Jacob
Turnstile, um garoto de Portsmouth, sul da Inglaterra, que sofre abusos
de toda sorte no orfanato do Sr. Lewis e pratica pequenos furtos
nas ruas da cidade. Detido pela polícia após roubar um relógio, é salvo
pela própria vítima do roubo quando esta lhe faz uma proposta: em vez de
ficar encarcerado, embarcaria no HMS Bounty para passar pelo
menos dezoito meses como criado particular do respeitado capitão Bligh.
Turnstile aceita a barganha, planejando fugir na primeira oportunidade.
Mas a rígida disciplina da vida no mar e uma relação cada vez mais leal
com o capitão transformarão sua vida para sempre. É pela voz desse
adolescente insolente e sagaz, mas ao mesmo tempo frágil e ingênuo, que o
leitor acompanhará uma viagem repleta de intrigas, tempestades
intransponíveis, cenários exóticos e lições de lealdade, paixão e
sobrevivência.
Olá, leitores! A resenha de hoje é do ótimo O garoto no convés, publicado em 2009 pela editora Companhia das Letras e muito bem escrito pelo John Boyne. Eu recebi esse exemplar de cortesia da editora em parceria com o blog e, claro, fiquei muito feliz por ter lido este livro. E surpreso por não tê-lo conhecido antes.
“(...)
Eu ia sair da Inglaterra e viver uma aventura. Se havia um garoto
mais sortudo neste mundo, eu não sabia seu nome nem sua situação.”
Pág. 51.
O garoto no convés conta a história real do navio Bounty através da visão de um personagem fictício. Após ser pego roubando o relógio de um fidalgo francês, um ano de prisão era o que aguardava o garoto John Jacob Turnstile. Salvo pelo Sr. Zéla, sua vítima, o garoto recebe a proposta de ser o criado do capitão Bligh numa viagem a bordo do Bounty rumo a uma missão que, aos poucos, vai ganhando forma. A bordo do Bounty, o garoto descobre que a vida no mar é bastante diferente daquelas aventuras que ele leu.
Turnstile é um ótimo personagem, com uma personalidade abusada em alguns momentos, mas sensata em vários outros. Principalmente quando o dele está na reta, por assim dizer. Ele começa como um garoto sem perspectivas, malandro, cheio de palavras atrevidas na ponta da língua. Durante o livro, percebemos o amadurecimento dele através de suas atitudes, vivência e por uma experiência terrível por que passa nas mãos dos marinheiros ao cruzarem a linha do Equador e que faz despertar as piores lembranças dele. É uma das partes mais marcantes da história e não tem como não torcer pelo garoto.
Turnstile não teve uma figura masculina em quem se espelhar. Pelo menos, nenhuma com uma história honrosa. Vivia no estabelecimento do Sr. Lewis, mas o homem não era alguém para se admirar. Ainda mais com as coisas que ele obrigava Turnstile e seus "irmãos" a fazerem. Já a bordo do Bounty, o garoto começa a sentir admiração e respeito pelo capitão Bligh por algumas de suas atitudes em relação ao trabalho no navio e por suas decisões. Bligh que por sua vez vê no menino o garoto que ele fora um dia, subordinado ao comando de seu "herói", o capitão James Cook.
“(...)
Nada melhor que o arrependimento e os pedidos de desculpa, mas certas
coisas que acontecem na vida ficam tão impressas na memória e tão
gravadas no coração que é impossível esquecê-las. São como um
ferrete.”
Pág.
147.
A narrativa é em primeira pessoa pelo ponto de vista de Turnstile, ou Tutu como os marujos gostavam de chamá-lo. O livro é dividido em cinco partes, sendo que a quarta é mais arrastada, pois ocorre logo após o acontecimento que resultou naquela situação em que os marinheiros acabam se encontrando. A capa é muito bonita, com uma textura semelhante a do livro O menino do pijama listrado. Diferentemente da inocência de O menino do pijama listrado, O garoto no convés possui uma linguagem mais maliciosa. Foi uma excelente sacada da editora modificar o título original, tanto para remeter O garoto no convés a O menino do pijama listrado como para ocultar o spoiler que o título original denuncia a quem não conhece a história do Bounty. Sem contar que também há um título de mesmo nome em seu catálogo.
Não tenho dúvidas quanto a
capacidade de John Boyne em contar ótimas histórias e criar
personagens que se tornam imediatamente favoritos, fictícios ou não. O autor soube montar um excelente relato sobre a vida a bordo do Bounty, tornando tudo bastante verossímil. Quando
terminei de lê-lo, senti imediatamente vontade de pesquisar tudo
sobre o Bounty e de mergulhar em leituras ambientadas em navios,
mares e ilhas, como Moby Dick e Robson Crusoé, só para citar alguns. A história do Bounty já gerou outras mídias, como filmes e alguns outros livros, além de pinturas.
Leitura recomendada para quem gosta de uma aventura épica, cheia de um humor sagaz e inocente, com um herói fictício tão carismático que consegue se sobressair aos personagens reais da história.
Leitura recomendada para quem gosta de uma aventura épica, cheia de um humor sagaz e inocente, com um herói fictício tão carismático que consegue se sobressair aos personagens reais da história.
“Por
que você não tenta, seu bostinha?”, eu disse, avançando e
puxando-lhe o nariz, esbofeteando-o e derrubando o jantar em sua
calça, atitude que provocou animadíssimos gritos de aprovação nos
outros oficiais lá reunidos. Não! Tudo isso só aconteceu na minha
imaginação, pois, embora não fizesse muito tempo que estava a
bordo do Bounty, eu conhecia a vida no mar o bastante para saber que
não devia responder a ninguém que envergasse farda branca, nem
mesmo a um sujeitinho da minha idade e, ainda por cima, feio como o
diabo.”
Pág. 79.