sexta-feira, 27 de abril de 2012

Resenha | Estilhaça-me

Estilhaça-me
Autora: Tahereh Mafi.
Tradução: Robson Falchetti.
Páginas: 304.
ISBN: 9788563219909.
Editora: Novo Conceito.

Sinopse:

Juliette nunca se sentiu como uma pessoa normal. Nunca foi como as outras meninas de sua idade. O motivo: ela não podia tocar ninguém. Seu toque era capaz de ferir e até matar.
Durante anos, Juliette feriu e, segundo seus pais, arruinou o que estava à sua volta com um simples toque, o que a levou a ser presa numa cela. Todo dia era escuro e igual para Juliette até a chegada de um companheiro de cela, Adam. Dentro do cubículo escuro, Juliette não tinha notícias do mundo lá fora. Adam ia atualizando-a de tudo.
Juliette não entendeu bem o que estava acontecendo quando foi retirada daquela cela e supostamente libertada, ao lado de Adam, e se vê em uma encruzilhada, com a possibilidade de retomar sua vida, mas por caminhos tortuosos e totalmente desconhecidos.

Olá, leitores. Hoje eu vou comentar sobre Estilhaça-me, primeiro livro de uma trilogia distópica bem diferente. Vamos saber o que eu achei do livro?

"Às vezes penso que a solidão dentro de mim explodirá pela pele e, às vezes, não tenho certeza se chorar ou gritar de histeria resolverá alguma coisa."
Pág. 12.

Juliette é uma jovem de 17 anos que está em um manicômio há 264 dias sem, literalmente, nenhum contato humano. Isso porque quando ela toca as pessoas, coisas ruins acontecem. Seus próprios pais a rejeitaram, considerando-a um monstro. Juliette está bastante confusa. E não entende muito bem porque lhe deram um companheiro de cela. Adam à princípio não é muito simpático, mas com o tempo Juliette começa a reconhecer nele traços familiares.

A confusão e o medo de Juliette são demonstrados na narrativa peculiar adotada pela autora. Muitas vezes parecendo o diário da garota nos contando sobre esse momento da vida dela, há várias palavras tachadas com o desejo dela de dizer coisas que ela não seria capaz de dizer em viva voz. Essas partes tachadas são mais recorrentes no começo do livro, mas depois que algumas coisas acontecem elas diminuem bastante. Uma vez que a gente se acostuma com essa narrativa diferente, a história flui muito bem e logo já lemos bastante coisa.

"Na ausência de relacionamentos humanos, criei laços com as personagens de papel. Vivi amor e perda por meio da histórias enredadas na história; experimentei a adolescência por associação. Meu mundo é uma tela entrelaçada de palavras, amarrando membro a membro, osso a tendão, pensamentos e imagens juntos. Sou um ser composto de letras, uma personagem criada por frases, um produto da imaginação fabricado por meio da ficção."
Pág. 65/66.

Estilhaça-me é um ótimo livro de entretenimento que faz a gente "perder" as horas lendo. Por causa do pouco foco na sociedade da época, a gente não tem uma base muito boa para questionar o Restabelecimento como temos em Jogos Vorazes, com as artimanhas da Capital para com os cidadãos de Panem. Ok, somos informados que a cor do céu mudou, quase não há animais e plantas. Mas, um pouco mais pra frente, vemos uma explicação para nos colocar uma dúvida enorme sobre essas coisas.

Um dos motivos que eu achei que não ia me agradar no livro foi o fato de dizerem que a distopia foca no romance. Para mim, romance só combina com distopia quando ele não é algo inerente aos desejos da sociedade da época ou quando a importância dele determina a sobrevivência das personagens, e não exatamente das principais. No entanto, ele funcionou de um modo diferente do que eu esperava em Estilhaça-me, me fazendo gostar do que li. Diferentemente de outras opiniões, não considerei a distopia focada no romance tanto quanto acontece em Destino, por exemplo.

Estilhaça-me foi associado a uma famosa série de desenho e filmes americanos e, inocentemente talvez, as pessoas acabaram dando um baita spoiler sobre o final do livro. Apesar do dom de Juliette ser semelhante a de uma das personagens dessa série, eu não esperava esse rumo na história. 

Distopia é um dos temas que eu me sinto mais atraído a ler ultimamente. Apesar de não ser uma literatura nova, já abordada no livro 1984 de George Orwell, teve seu "boom" atual com a trilogia Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. Tahereh arriscou uma distopia com um tempero bem diferente do que a gente vê nos livros sobre o tema. Espero que o próximo livro, que demorará praticamente um ano para surgir por aqui, seja tão surpreendente quanto este.

"Minha humanidade está estilhaçada em um milhão de pedaços sobre o chão acarpetado."
Pág. 84.

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