Autora: Crystal Chan.
Tradução: Thaís Paiva.
Editora: Intrínseca.
Páginas: 224.
ISBN: 9788580575354.
Classificação: 4,5/5.
Capítulo do Livro
Skoob
Sinopse:
O avô de Joia parou de falar no dia em que matou o irmão dela. O menino se chamava John, e achava que tinha asas. Subia e saltava do alto de qualquer coisa, até ganhar do avô o apelido de Passarinho. Joia não teve a chance de conhecê-lo, pois Passarinho se jogou do penhasco bem no dia em que ela nasceu. Ainda assim, por muito tempo ela viveu à sombra de suas asas. Agora, aos doze anos, Joia mora em uma casa tomada por silêncio e segredos. Os pais culpam o avô pela tragédia do passado, atribuem a ele a má sorte da família. Joia tem certeza de que nunca será tão amada quanto o irmão, até que ela conhece um garoto misterioso no alto de uma árvore. Um garoto que também se chama John. O avô está convencido de que esse novo amigo é um duppy — um espírito maldoso —, mas Joia sabe que isso não é verdade. E talvez em John esteja a chave para quebrar a maldição que recaiu sobre sua família desde que Passarinho morreu.
Quando a Turnê Intrínseca veio ao Espírito Santo e apresentou os livros que seriam lançados durante o ano, um dos que mais me chamou a atenção, pela capa antes de conhecer a história, foi Passarinho.
(...) Se você entrega muito de si a alguém, rápido demais, essa pessoa pode simplesmente ir embora e levar tudo. E quando se trata de alguém como eu, que já não tenho muito de mim, bem, é preciso ter cuidado redobrado.
Página 12.
É um livro tão curto que vocês podem imaginar que as páginas podem não ser suficientes para contar a complexa e ao mesmo tempo simples história de uma família que, ao apelidar um garotinho de Passarinho, entrou num estado de luto muito longo.
Quando tinha cinco anos, o irmão de Joia, John, atirou-se de um penhasco ao mesmo tempo em que a irmã nascia prematuramente em casa. Ela recebeu esse nome incomum para afastar a sina que o nome tão comum trouxe ao irmão. Sua família é muito supersticiosa. No seu aniversário de doze anos, Joia sai de casa tarde da noite, pois não conseguia dormir, e descobre que tem alguém no seu lugar preferido. É um garoto que surge como uma aparição, mas que ela logo descobre se tratar do sobrinho do vizinho; o nome dele é John.
Passarinho é um livro que mexeu comigo em vários momentos. Eu gosto bastante de livros que abordam o ponto de vista de crianças para falar de assuntos algumas vezes polêmicos ou que esperamos que crianças não precisem enfrentar muito cedo na vida, como a morte. Claro que a morte de Passarinho afeta toda a família de Joia, como o avó que simplesmente parou de falar após o ocorrido. O relacionamento de Joia com ele é uma das partes que eu mais gostei de acompanhar, porque o avó começa bem ranzinza e temeroso em relação aos duppies - espíritos malignos culpados pela morte de Passarinho - e vai revelando outras facetas aos poucos. A amizade entre Joia e John nasce da admiração mútua que eles começam a nutrir aos revelarem suas camadas e compartilharem sonhos e desejos.
Vocês podem imaginar que o livro é um clichê. Não vou negar que os temas abordados dão margem a esse pensamento. Mas amizade e família são temas universais. Crystal Chan pega os clichês e os transforma em algo mais. E, no final, a gente percebe uma grande transformação na menina que viveu durante muito tempo numa família em que o silêncio era carregado de tristeza e descobriu numa amigo inesperado como encher seus dias com som.
(...) Mas, na verdade, há lugares especiais em toda parte. Acho que um lugar pode ser especial simplesmente porque é - foi especial desde o início dos tempos e será assim até o fim, como o penhasco -, e outras vezes é especial por causa do que fazemos quando estamos lá.
Página 206.