sexta-feira, 17 de maio de 2013

Resenha | A Lista Negra

A Lista Negra
Autora: Jennifer Brown.
Tradução: Claudio Blanc.
ISBN: 9788565383110.
Páginas: 272.
Editora: Gutenberg.
Capítulo do Livro
Skoob

Sinopse:

E se você desejasse a morte de uma pessoa e isso acontecesse? E se o assassino fosse alguém que você ama? O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista com o nome dos estudantes que praticavam bullying contra os dois. A lista que ele usou para escolher seus alvos. Agora, ainda se recuperando do ferimento e do trauma, Val é forçada a enfrentar uma dura realidade ao voltar para a escola para terminar o Ensino Médio. Assombrada pela lembrança do namorado, que ainda ama, passando por problemas de relacionamento com a família, com os ex-amigos e a garota a quem salvou, Val deve enfrentar seus fantasmas e encontrar seu papel nessa história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas. A lista negra, de Jennifer Brown, é um romance instigante, que toca o leitor; leitura obrigatória, profunda e comovente. Um livro sobre bullying praticado dentro das escolas que provoca reflexões sobre as atitudes, responsabilidades e, principalmente, sobre o comportamento humano. Enfim, uma bela história sobre auto-conhecimento e o perdão.

Eu conheci o livro através da resenha da Alba Regina - cof, cof - no Psychobooks e deixei praticamente um depoimento na caixa de comentários do site. Imediatamente me interessei pela história da até então estreante Jennifer Brown e, assim que tive a oportunidade, comprei o livro e me joguei na leitura. Confesso que a primeira vez que eu li, eu simplesmente não consegui expressar o tanto que o livro mexeu comigo. Eu já sofri bullying quando criança e lembro como e ruim passar por isso. 

Comecei a fazer uma resenha, mas não conseguia terminá-la à época. Numa maré de leituras ruins, eu resolvi relê-lo e isso foi ótimo, porque finalmente eu consegui falar sobre esse excelente livro. Vamos conhecer um pouco!

Em um dia péssimo para mim, tudo o que eu queria era devolver o mal para cada um daqueles que estavam estragando o meu dia. Então, tive a ideia de escrever seus nomes em um caderno, como se aquele caderno fosse uma espécie de boneco de vodu ou coisa parecida. Acho que sentia que anotar seus nomes no caderno provava que eram imbecis e que eu era a vítima.
Página 85.

Em A Lista Negra, Jennifer Brown conta a história de uma menina que por sofrer algumas provocações na escola criou uma lista com o nome das pessoas e coisas que ela queria que não existissem mais. Quando seu namorado tomou conhecimento dessa lista, Valerie Leftman não imaginava nunca que ele fosse levá-la tão a sério. Nick Levil, buscando "justiça" para tudo o que acontece com ele e Valerie, num dia, leva uma arma para a escola e simplesmente abre fogo contra as pessoas da lista, matando vários alunos e um professor. A intervenção de Valerie fez com que o massacre não fosse pior.

Algumas semanas depois, após tratamento hospitalar e psiquiátrico, Valerie precisa voltar à escola para terminar o último ano do ensino médio. Mas não é fácil voltar quando se é a esquisita cujo namorado matou vários colegas e, também, aquela que salvou outros de morrer.

Uma das coisas que esse livro mostra é que, na maioria das vezes, sentimos tanta raiva das pessoas que nos provocam que acabamos expressando na fala, ou em qualquer outro modo, as piores coisas que desejamos que aconteça com elas. Mas só desejamos e, creio que na maioria das vezes, não queremos que essas coisas realmente aconteçam, se tornem reais. Só que, assim como Valerie descobre da pior maneira possível, não temos como saber como outra pessoa recebe nossas palavras.

(...) As pessoas fazem isso o tempo todo - acham que 'sabem' o que está se passando na cabeça de alguém. Isso é impossível. É um erro achar isso. Um erro muito grande. Um erro que, se você não tiver cuidado, pode arruinar sua vida.
Página 25.

Valerie se sente bem quando conhece Nick. É confortável encontrar alguém que nos compreende. Valerie revela sua alma para o garoto e não consegue perceber a profundidade das palavras dele, toda a intenção escondida por trás delas. Quando estamos envolvidos, é mais difícil enxergar o que alguém de fora facilmente consegue ver. Envolvidos, vemos o que queremos.

Jennifer constrói e desconstrói a imagem de Nick. Ele é um garoto perturbado, com uma percepção surreal da vida, mas é também o amante dos livros de Shakespeare. Não teme ser perdedor se puder, algumas vezes, ser vencedor. Ao final, não dá para dizer se Nick é culpado ou inocente. Cada um terá uma opinião a respeito dele. Se eu o conhecesse, jamais imaginaria que havia tantas sombras o envolvendo. Ele é, para mim, também uma vítima. Mas é complicado dizer quem é vítima ou perpetrador na questão do bullying.

- Tudo bem se alguém deixar você vencer de vez em quando - disse ele, ficando série de repente. - Não precisamos ser sempre perdedores, Valerie. Eles podem querer que a gente se sinta assim, mas nós não somos perdedores. Às vezes também ganhamos."
Página 60.

Existe uma cultura enraizada em toda e qualquer escola do mundo de que ser o "valentão" é algo "irado" e que o diferente, seja lá o que isso queira dizer, deve ser rebaixado. As crianças do Colégio Garvin descobrem que isso não deveria ser assim. Alguns aprendem com o massacre e mudam de atitude, mas às vezes as pessoas resolvem não aprender.

Os alunos ficam confusos sobre como agir com a volta de Valerie. Os que foram vítimas diretas não entendem o porquê de permitirem seu retorno. Na discussão acalorada que se segue, eles externam tudo o que realmente sentem e pensam um do outro. Há aqueles que não eram amigos das vítimas antes do tiroteio e agora o são, e são acusados apenas de gostar do "drama". Há aqueles que questionam que, se as pessoas tivessem sido legais com Nick, nada daquilo tivesse acontecido.

É muita coisa para eles processarem. É impressionante o fato de Valerie não pirar com todas aquelas pessoas ao redor, julgando. Não é somente o pessoal da escola, mesmo as pessoas que deveriam apoiá-la não sabem como tratá-la. Ela não as enfrenta com rebeldia, ela se isola e foca sua atenção em ver as coisas como elas são e não como gostariam que ela visse.

A escola ainda não havia decidido se eu era vilã ou heroína e acho que eu não posso culpá-los. Eu mesma estava tendo dificuldade para resolver isso. Será que eu fui a bandida que criou o plano para matar metade da minha escola ou a mocinha que se sacrificou para acabar com a matança? Em alguns dias eu me sentia as duas. Em outros, não me sentia nem bandida nem mocinha. Era muito complicado.
Página 13.

Jessica Campbell, presidente do Conselho Estudantil, era uma das garotas que pegavam no pé de Valerie e responsável pelo desagradável apelido de Irmã da Morte, por conta do jeito de Valerie se comportar. Ela conseguia fazer Valerie se sentir pequena e estúpida com o tom desprezível que usava para se dirigir a ela. O massacre a faz passar por uma grande, e difícil, transformação; é uma das primeiras a voltar a se aproximar de Valerie quando todos os outros se afastam. Stacey, porém, era amiga de Valerie e as duas tinham muito em comum. Moldável ao mundo ao redor, a garota não possuía inimigos como Valerie. Sente culpa por ter mantido Valerie a distância antes do tiroteio e teme os riscos de se estar próxima dela agora.

A narrativa em primeira pessoa é pelo ponto de vista de Valerie. Os capítulos são intercalados com a volta dela para o colégio e os momentos que precederam e seguiram ao massacre. Senti que isso não atrapalhou o desenvolvimento e a compreensão do que o massacre trouxe às outras pessoas. Valerie se torna mais consciente. Percebemos a rachadura na sua família e o peso sobre os ombros de uma mãe que não sabe o que pensar sobre a filha. Apesar do amor por Nick, é por ela que também somos colocados em dúvida sobre as atitudes tomadas pelo garoto.

Eu espero que muitas pessoas possam ter a oportunidade de lê-lo e levar todos os questionamentos que ele traz para a vida.

Para mim, A Lista Negra é um livro perfeito.

E foi assim que começou a famosa Lista Negra: como uma piada. Uma forma de descarregar a frustração. No entanto, ela acabou se transformando em algo que eu nem imaginava.
Página 85.

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