quarta-feira, 24 de abril de 2013

Resenha | Delírio

Delírio
Autora: Lauren Oliver.
Tradução: Rita Sussekind. 
ISBN: 9788580571646.
Páginas: 352.
Editora: Intrínseca.

Sinopse:

Muito tempo atrás, não se sabia que o amor é a pior de todas as doenças. Uma vez instalado na corrente sanguínea, não há como contê-lo. Agora a realidade é outra. A ciência já é capaz de erradicá-lo, e o governo obriga que todos os cidadãos sejam curados ao completar dezoito anos. Lena Haloway está entre os jovens que esperam ansiosamente esse dia. Viver sem a doença é viver sem dor: sem arrebatamento, sem euforia, com tranquilidade e segurança. Depois de curada, ela será encaminhada pelo governo para uma faculdade e um marido lhe será designado. Ela nunca mais precisará se preocupar com o passado que assombra sua família. Lena tem plena confiança de que as imposições das autoridades, como a intervenção cirúrgica, o toque de recolher e as patrulhas-surpresa pela cidade, existem para proteger as pessoas. Faltando apenas algumas semanas para o tratamento, porém, o impensado acontece: Lena se apaixona. Os sintomas são bastante conhecidos, não há como se enganar — mas, depois de experimentá-los, ela ainda escolheria a cura?


Delírio é o primeiro livro de uma trilogia distópica em que o amor foi identificado como uma doença e cientistas descobriram uma cura. O nome da doença é amor deliria nervosa e possui alguns sintomas, como por exemplo desorientação, distração e dificuldade de concentração. Toda pessoa que completa 18 anos precisa passar pela intervenção que eliminará a deliria. A intervenção não funciona corretamente em menores de 18, podendo acarretar danos cerebrais, paralisia parcial, cegueira ou consequência piores.

(...) Na escola, aprendemos que antigamente, nos tempos sombrios, as pessoas não percebiam quão mortal era a doença do amor. Durante muito tempo ela era inclusive encarada como um sentimento bom, a ser celebrado e buscado. Claro que essa é uma das razões que o tornam tão perigoso: afeta nossa mente, impedindo-nos de pensar com clareza ou tomar decisões racionais sobre nosso próprio bem-estar(...).
Página 08.

Acontece que algumas pessoas preferem a morte a passar pela intervenção. Também há alguns raros casos de pessoas que passaram pela intervenção, mas não foram curadas. A mãe da personagem principal, por exemplo, passou por três, sendo que na terceira não quiseram sedá-la alegando que o sedativo invalidava os efeitos da cura. Quando foram buscá-la para uma quarta tentativa, ela fugiu na escuridão e lançou-se de um precipício.

É o que Lena nos conta e o que nos joga na história.

A narrativa de Lauren Oliver é bastante poética. Acreditem: bastante poética. É preciso ter isso em mente antes de começar Delírio para saber aproveitar melhor a história. Muitas metáforas são usadas, como quando Lena escuta uma música tão intensa que a lembra o oceano no meio de uma tempestade, com as ondas quebrando ferozmente.

Aprendi a ser muito boa nisso - dizer uma coisa quando estou pensando em outra, agir como se estivesse ouvindo quando não estou, fingir estar calma e feliz enquanto, na verdade, estou completamente descontrolada. É uma das habilidades que aperfeiçoamos quando crescemos. É preciso aprender que as pessoas sempre estão ouvindo."
Página 45.

Lena leva uma vida em constante estado de alerta, assustada, com medo de cometer um pequeno deslize ou mesmo ser pega com ideias contrárias às da sociedade. Seu crescimento acontece de forma bem gradativa, quando percebe que sua melhor amiga Hana começa a questionar as regras e ser uma pessoa diferente daquela que ela sempre conheceu. E, também, quando ela conhece Alex, um soldado de baixa patente responsável por tomar conta da área externa de alguns galpões.

A sociedade vive sob as regras do Shhh, um livro que é leitura obrigatória e que dita sobre tudo o que é certo e aceitável, como uma nova Bíblia. A verdade é que esse primeiro livro me deu a impressão de que o governo é uma grande religião tirana ou muito amargurada. Eles lutam de todas as formas para que o amor não seja propagado, seja fazendo blitzes após o toque de recolher, pareando as pessoas com gente que tem um perfil compatível com o delas, condenando às criptas quem insiste em lutar pelo amor. Há uma cerca em volta da cidade que supostamente impede os inválidos de entrarem. É eletrificada e o toque nela é capaz de deixar as pessoas fritas como bacon. Mas o que poucas pessoas se dão conta é que ao mesmo tempo em que a cerca mantém as pessoas foram, ela mantém as pessoas presas.

De todas essas "novas" distopias que eu li, Delírio é aquela que eu considero mais cruel. Você pode ser colocado em uma arena para lutar até a morte; se tiver sorte, sobrevive e se torna um vitorioso. Mas você ainda tem o direito de amar. Viver apático, não poder sonhar. Não sofrer porque alguém que você ama não é recíproco aos seus sentimentos. Tudo isso, e muito mais, pode parecer horrível, mas é o que nos amadurece e nos faz crescer. É claro que o amor também traz coisas bonitas e faz tudo ao redor parecer mais belo. O que me faz pensar que, no passado dessa história, alguém teve um caso muito significativo envolvendo o amor para torná-lo uma doença.

(...) É apenas uma sensação que me ocorre de que o tempo está passando muito depressa, correndo. Um dia vou acordar e toda a minha vida terá passado, e ficarei com a impressão de que ela passou tão rápido quanto um sonho.
Página 249. 

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