quarta-feira, 31 de julho de 2013

Resenha | A garota que eu quero

A garota que eu quero
Autor: Markus Zusak.
Tradução: 
Vera Ribeiro.
ISBN: 
9788580573732.
Páginas: 176.
Editora: Intrínseca

Cameron Wolfe é o caçula de três irmãos, e o mais quieto da família. Não é nada parecido com Steve, o irmão mais velho e astro do futebol, nem com Rube, o do meio, cheio de charme e coragem e que a cada semana está com uma garota nova. Cameron daria tudo para se aproximar de uma garota daquelas, para amá-la e tratá-la bem, e gosta especialmente da mais recente namorada de Rube, Octavia, com suas ideias brilhantes e olhos verde-mar. Cameron e Rube sempre foram leais um com o outro, mas isso é colocado à prova quando Cam se apaixona por Octavia. Mas por que alguém como ela se interessaria por um perdedor como ele? Octavia, porém, sabe que Cameron é mais interessante do que pensa. Talvez ele tenha algo a dizer, e talvez suas palavras mudem tudo: as vitórias, os amores, as derrotas, a família Wolfe e até ele mesmo.

A garota que eu quero é o terceiro livro da trilogia dos irmãos Wolfe iniciada na Bertrand Brasil com O Azarão e Bom de Briga. Por conta de compra de direitos de publicação de livro e não autor, ocorreu essa situação inesperada. Esse é o meu primeiro contato com o autor, bastante conhecido por A menina que roubava livros.

Era uma verdade que me dizia, com uma brutalidade interna contundente, que eu era eu e que vencer não vinha naturalmente para mim. Era algo pelo qual tinha que lutar, nos ecos e nas pegadas trilhadas da minha mente.
Página 7.

Se você leu os livros anteriores, você já conhece o Cameron, o irmão caçula de três irmãos. Ele também possui uma irmã. É um garoto na dele, sozinho mesmo estando entre muitos. Diferente de Steve que é um bem sucedido jogador profissional de futebol americano e Rube que tem uma facilidade enorme de namorar e dispensar garotas, Cam é visto muitas vezes como perdedor. Ele quer uma garota para amar e tratar bem. Ele sente, porém, que dificilmente alguma se interessará por um perdedor como ele. Até que aparece uma e faz com que ele se sinta como um oceano. Mais do que mostra na superfície, profundo.

AGQEQ é um livro que eu gostaria muito de ter lido na minha adolescência. Certamente, teria me feito ver e encarar algumas coisas de forma diferente. Eu me identifiquei bastante com o Cam e com as situações que ele vive. Sendo solitário, ele não tem muito o que fazer fora da rotina de ir para a escola, voltar para casa e, de novo, ir para a escola. Ele espera que a garota que ele curte apareça na janela da casa quando, vez ou outra, ele se senta durante horas na calçada em frente à casa dela. Eu lembro de ir aos rocks - que é como nós capixabas chamamos shows, baladas etc - e, de uma certa distância, observar aquele mundo estranho de que queria fazer parte.

As coisas sempre parecem deslizar para longe.
Chegam até a gente, ficam por um momento e tornam a partir.
Naquele dia, o trem pareceu um amigo e, quando foi embora, senti alguma coisa dentro de mim tropeçar. Estava sozinho na rua e, embora continuasse sereno, a breve felicidade havia acabado e uma tristeza me dilacerou, bem devagar e com determinação. As luzes da cidade brilharam no ar, estendendo-me os braços, mas eu sabia que elas nunca me alcançariam de verdade.
Página 13.

A narrativa fica bem ágil após se acostumar como o modo do autor contar essa história. Digo isso por me incomodar um pouco frases ou palavras ocupando apenas uma linha. Markus tem facilidade para transmitir o que quer e seus personagens demonstram amor e amizade pura, sem se preocupar com o que os outros poderiam pensar. O relacionamento de Cam com os irmãos é bonito e a clareza com que ele compreende os esforços dos pais é admirável, mesmo que ele não fale todas essas coisas a eles. Acredito que todo filho admira o pai, mãe ou figura que os represente de alguma forma, mas muitas vezes não sabe como dizer isso a eles.

O livro segue o padrão 16x23 como os outros livros do autor lançados pela Intrínseca. O papel é pólen, a fonte é relativamente pequena e os capítulos são curtos, dando mais dinâmica à leitura.

Não há necessidade da leitura dos dois primeiros livros para acompanhar Cameron nesse livro. Porém, quem for lê-lo perderá o crescimento dos outros personagens, afinal eles já passaram por alguns momentos que os levaram a ser o que são neste livro. São como detalhes que, num livro individual, fortalecem e dão verossimilhança à história do personagem.

Esse é o primeiro livro do Markus que eu leio e, apesar de estranhar uma coisa ou outra no começo, me surpreendeu bastante. Recomendado!

Houve uma época em que eu realmente ansiava por fazer parte de um grupo de amigos. Queria uma turma de caras pelos quais me sentisse disposto a derramar meu sangue. Nunca aconteceu. Quando eu era mais novo, tive um amigo chamado Greg, que era legal. Na verdade, fizemos uma porção de coisas juntos. Depois nos afastamos. Isso vive acontecendo com as pessoas, acho. Não é nada especial. De certo modo, faço parte do grupo dos Wolfe, e isso basta. Sei, sem a menor dúvida, que derramaria sangue por qualquer um da minha família.
Página 19.

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