Hoje eu vou falar sobre um assunto que eu domino bem, de algum modo: solidão. Por favor, não entrem em depressão lendo o que eu escrevi. É um texto longo e eu realmente não espero que alguém chegue ao fim dele. Mas se chegar, podem comentar. Eu aguento.
Eu creio que a solidão sempre fez parte de mim. Acho, na verdade, que sempre tive dificuldade de me relacionar com outras pessoas. Estudei um ano no Rio de Janeiro e levei quase seis meses para conversar direito com os meus colegas da sala. Eu tinha de 8 para 9 anos àquela época e era uma criança que ficava sentada num canto enquanto os outros garotos da sala brincavam pelo pátio da escola. Mas depois que eu voltei para o Espírito Santo, no ano seguinte, as coisas foram diferentes até o ano em que eu fui para o Ensino Médio. Exceto por uma ou outra coisa, nada me incomodou muito até o término da oitava série.
Meus três anos no Ensino Médio foram os piores anos da minha vida. Adolescência é uma época complicada por si só, agora imaginem para um garoto completamente deslocado e solitário que não sabia o quão incômodo essa coisa seria depois de um tempo. Eu sempre fui muito na minha, do tipo que conversava somente com as pessoas que sentavam mais perto da minha carteira. Eu quase não saia de casa, enquanto os meus colegas de classe não cansavam de dizer o quanto o rock no final de semana tinha sido bom, como foi a festa em que foram em outro bairro ou mesmo no meu. E o pior era saber que houve alguns aniversários para os quais eu não fora convidado. Eu nunca entendia os motivos e, mesmo hoje, continuo sem entender. Afinal, eu tentava me encaixar. Buscava me interessar pelas bandas que eles gostavam e tudo, mas parecia que havia alguma coisa em mim que afastava todo mundo.
Ou eu era um chato e não percebia. A verdade é que eu era um adolescente e não entendia a vida como eu a entendo, ou acho entender, hoje.
Mas no meu terceiro ano que tudo desandou de vez. Antes mesmo de ele começar, eu já não suportava as minhas férias por não ter nada o que fazer. Queria que elas acabassem logo para eu poder ver pessoas. Imaginem a situação em que um garoto de 16 anos deseja voltar a estudar e não ter mais dias de férias! Naquele ano, me empurraram para um pré-vestibular que eu abandonei na primeira semana e fiquei chorando durante um longo tempo porque sentia vergonha e achava que estava decepcionando legal a minha mãe que fora atrás dele para mim. Vi meus colegas de sala trocando mais de namorados e namoradas do que eu saía à rua. E, no final do ano, não teríamos uma formatura do Ensino Médio realizada pela escola. Mas os alunos se reuniram para realizar uma eles mesmos.
E eu não fui à festa. Eu ajudei com dinheiro e tal, mas simplesmente não quis ir. Eu já me sentia muito pessimista com tudo e todo mundo parecia sempre melhor do que eu. Já era uma época em que eu me questionava o motivo de eu existir se nada acontecia na minha vida. Eu não me sentia bem comigo mesmo. Era gordinho e uma festa na piscina não era para mim, ainda mais sabendo o que eu tinha certeza de que aconteceria lá. Um monte de adolescentes juntos, claro que alguém ia ficar com outro alguém e eu não queria ser o deixado de lado mais uma vez. E quando eles voltaram na segunda-feira e ouvi as histórias, soube que não estava enganado.
Tinha alguns escapes, é claro. Eu já começara a ler Harry Potter desde 2002 e ansiava por cada lançamento. Eu já tentara escrever algumas histórias, eu tinha muita imaginação àquela época. Mas não tinha o ambicioso sonho de ter um livro publicado. Até hoje, eu guardo um caderno com uma história que eu escrevi. Vejo meus garranchos, erros de português gritantes e lembro um pouco da boa sensação de criar algo.
É estranho quando hoje eu vejo as pessoas daquela época convivendo e noto que nada sei sobre a vida delas, assim como elas não sabem nada da minha. Acaba que é isso mesmo. Cada um segue sua vida para um lado, alguns se importam o suficiente para continuar mantendo contato. Mas outros não. E isso me incomodou bastante durante muito tempo. Eu não queria aceitar o fato de continuar sendo deixado de lado. A Internet me trouxe proximidade com algumas pessoas de locais distantes, mas me afastou de outras próximas e me fez perceber que realmente não fiz diferença o suficiente na vida destas para continuar a insistir em amizades que eu sabia que não vingariam.
Acho que a Internet foi o escape moderno da vez. É um mundo totalmente novo e amplo para explorar. Mas que também me causou um grande mal por um longo tempo. Porque as mesmas coisas que eu vivi aqui do outro lado pareciam acontecer quando conectado. As pessoas mudavam, mas as situações não. Fiz algumas amizades que eu fiz o favor de deixar de lado por achar que não me compreendiam, e fazer isso me fez muito mal. Mas percebi que eu sou uma pessoa um pouco difícil. Demoro muito, mas demoro muito mesmo para confiar em alguém. Mas se essa pessoa me magoa, não consigo voltar a confiar como antes. Eu preciso de tempo e paciência.
Neste ano de 2013, eu prometi para mim mesmo fazer o possível para não me sentir mal em relação a coisa alguma. Não é fácil ser otimista quando vejo o tempo passando tão rápido hoje em dia e não possuo uma amizade verdadeira aqui do outro lado do computador. Eu não tenho nenhuma história para contar porque eu não tive com quem vivê-la. Não é fácil quando saio à rua e vejo as pessoas andando em duplas por aí e eu sozinho. Como deve ser bom saber que você pode confiar em alguém com quem você convive há anos e anos. Etc, etc, etc...
Apesar de haver várias pessoas ao meu redor, coisa que eu agradeço a Deus, eu ainda me sinto sozinho. Mesmo elas morando em meu estado, moram em locais longes demais para que nos vejamos sempre. Como o pessoal do Clube do Livro ES. Eu gosto bastante das reuniões que temos e fico agoniado quando alguém sugere alguma mudança de data ou horário porque sei que vai demorar mais ainda para nos encontrarmos. E o tempo que passamos juntos passa muito rápido.
Eu não acho que é tarde para alguma coisa de bom acontecer. O meu blog está aqui e ele é uma vitória espetacular na minha vida. Nunca consegui manter um blog tanto tempo quanto mantenho este. Normalmente, os meus outros duravam um mês e eram esquecidos.
Eu já aceitei a solidão como uma condição de vida e algo que estará comigo sempre. Aceito o fato de que não terei um colega da época de escola para lembrar o passado quando for mais velho. Mas terei meus livros que, apesar de suas histórias próprias, carregam consigo momentos da minha vida que vou lembrar. Aceito que não me encaixo em outra metade e eu não estou falando de ter um relacionamento amoroso, porque não vejo minha solidão assim.
Algumas pessoas lidam com a solidão de forma completamente diferente de outras. Algumas pessoas não a suportam e tomam medidas irreversíveis, outras a aceitam como companheira e necessária à vida. O que é importante é encontrar um modo de lidar com ela sempre visando o nosso melhor. Se tivermos que afastar mais algumas pessoas da nossa vida, façamos! Pode ser necessário para que outras venham, isso acontece. Mas devemos ser receptivos se algumas quiserem voltar. Quem for importante, continua. Não devemos nos sentir menos importante por não termos continuado na vida de outras pessoas. Porque o solitário às vezes é assim mesmo: tende a afastar o que lhe faz bem com medo de levar um grande tombo na primeira decepção que outro lhe causar.
Eu não sei se sou a pessoa mais adequada a dar conselhos, bastar lembrar o que leram aí em cima, mas espero que este seja o primeiro ano de uma grande amizade de cada um com a sua solidão. Brigamos durante muitos anos, está na hora de fazermos as pazes. Está na hora da solidão ser nossa amiga.