sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Resenha | O pacifista

O pacifista
Autor: John Boyne
Tradução: Luiz Antônio de Araújo
ISBN: 9788535921939
Páginas: 304
Editora: Companhia das Letras
Capítulo do Livro
Skoob

Sinopse:

Inglaterra, setembro de 1919. Tristan Sadler, vinte e um anos, toma o trem de Londres a Norwich para entregar algumas cartas à irmã mais velha de William Bancroft, soldado com quem combateu na Grande Guerra. Mas as cartas não são o verdadeiro motivo da viagem de Tristan. Ele já não suporta o peso de um segredo que carrega no fundo de sua alma, e está desesperado para se livrar desse fardo, revelando tudo a Marian Bancroft. Resta saber se o antigo combatente terá coragem para tanto. Enquanto reconta os detalhes sombrios de uma guerra que para ele perdeu o sentido, Tristan fala também de sua amizade com Will, desde o campo de treinamento em Aldershot, onde se encontraram pela primeira vez, até o período que passaram juntos nas trincheiras do norte da França.

Quando temos que falar de um autor que a gente gosta muito, normalmente tendemos a exaltá-lo tanto que alguém pode nos achar louco ou extremamente puxa-saco. Da editora? Do autor? Eu não sei. Mas não tem como falar deste livro do John Boyne sem dizer um belo de um palavrão: PUTA QUE PARIU.

Eu confesso que eu não curti muito a capa do livro. Comparada com a capa dos outros livros dele que eu li, essa era até então a menos chamativa. Mas depois que eu fechei o livro, após a última página, passei a vê-la com outros olhos.

Vamos conhecer um pouco mais sobre O pacifista. 

O ano é 1919 - e se vocês se lembram das aulas de história, este é o ano subsequente ao fim da Primeira Guerra Mundial. Tristan Sadler tem 21 anos e lutou nas trincheiras, mas agora, de volta a Inglaterra, ele tomou um trem para a cidade de Norwich com uma missão: entregar algumas cartas para Marian Bancroft, irmã de um camarada com quem ele combateu. E quando os dois finalmente se encontram num café, Tristan é levado de volta ao passado e revive a dura vida durante a guerra e os momentos anteriores a ela em que o definiu como homem.

O livro é dividido em aproximadamente seis partes, alternando o passado e o presente, contado pelo ponto de vista de Tristan. Tristan ainda não tinha 18 anos quando se alistou e conheceu Will e os outros camaradas que iriam para a guerra junto com ele. Essa é uma das partes interessantes do livro em que o autor já prepara o terreno para o que virá mais a frente e que algumas coisas são definidas. Conforme as conversas com Marian vão se alternando, Tristan se vê cada vez mais perto de contar um segredo que é uma das razões do palavrão ali em cima e é uma das passagens mais emocionantes do livro. John Boyne conseguiu mostrar de forma sensível uma questão que hoje em dia é um enorme tabu e que, à época em que foi contextualizada em O pacifista, era passível de condenação.

“'Eu não sei o que sou', disse em voz baixa. 'Para falar a verdade, passei a maior parte dos últimos anos tentando encontrar resposta para isso.'"
Pág. 135.

John Boyne explora a humanidade, ou falta dela, envolvida na guerra. Um dos exemplos é quando Will encontra um alemão e o faz prisioneiro e os ingleses precisam decidir o que fazer com ele. Eu realmente nunca vou entender o que leva um ser humano a matar outro e, ainda assim, ser considerado algo nobre morrer pelo seu país. E quando um homem mostra seus ideais e resolve não fazer parte desse massacre, é, definitivamente, estúpido considerá-lo covarde.

Eu acredito muito que John brincou com o nome dos personagens neste livro. Tristan é um homem com uma história bem triste mesmo antes da guerra entrar na sua vida. Seu sobrenome bem pode ter origem na palavra inglesa para tristeza, "sad". Assim como "ban/croft" pode dizer muito sobre Will. 

A minha identificação com Tristan se deve ao fato de ele ser um solitário, triste e, ainda assim, com uma certa esperança de que as coisas deem certo para ele. Também tem o fato de ele ser um leitor e gostar de escrever. É possível enxergar com clareza seu desenvolvimento; de um garoto com ideias erradas, beirando ao infantil, a um homem com culpa buscando redenção e perdão, por exemplo. Há passagens tão intensas que conversam conosco como se estivéssemos ali, no lugar do personagem. Marian é um mulher muito à frente de seu tempo, emancipada, e com uma sensibilidade incrível. Will é aquele tipo de pessoa que, de tão confusa, acaba nos confundindo sobre o que pensar sobre ele. Ele foi justo ao dizer aquelas coisas? Ele tinha o direito de brincar com algo tão complicado como o sentimento de outra pessoa? Ele foi verdadeiro?

“(...) 'O que eu estou sentindo?'
'Duas coisas, eu diria. A primeira é culpa.
Permaneci calado, mas sem deixar de fitá-lo. 'E a segunda?'
'Ora, você se detesta.
Pág. 29.

Eu não costumo colocar playlist nas minhas resenhas, mas foi inevitável lembrar de duas músicas ao ler este livro. Uma delas é Under pressure e a outra, Bohemian rhapsody. Ambas da banda inglesa Queen. De algum modo, as letras dessas músicas "se casam" com a história de Tristan.

Parem tudo o que estão fazendo e leiam John Boyne!

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