Autor: Robert Galbraith.
Tradução: Ryta Vinagre.
Editora: Rocco.
Páginas: 448.
ISBN: 9788532528735.
Capítulo do Livro
Skoob
Sinopse:
Quando uma modelo problemática cai para a morte de uma varanda coberta de neve, presume-se que ela tenha cometido suicídio. No entanto, seu irmão tem suas dúvidas e decide chamar o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso.
Strike é um veterano de guerra, ferido física e psicologicamente, e sua vida está em desordem. O caso lhe garante uma sobrevida financeira, mas tem um custo pessoal: quanto mais ele mergulha no mundo complexo da jovem modelo, mais sombrias ficam as coisas e mais perto do perigo ele chega.
Um emocionante mistério mergulhado na atmosfera de Londres, das abafadas ruas de Mayfair e bares clandestinos do East End para a agitação do Soho. O chamado do Cuco é um livro maravilhoso. Apresentando Cormoran Strike, este é um romance policial clássico na tradição de P. D. James e Ruth Rendell, e marca o início de uma série única de mistérios.
Olá, pessoal! A resenha hoje é especial. É do primeiro livro escrito por J. K. Rowling sob o pseudônimo de Robert Galbraith. Mas afinal de contas, o que é um pseudônimo? Vou explicar. É quando um autor resolve desvincular sua imagem e nome famosos para explorar algo diferente ou mesmo evitar comparações com outras obras suas.
~O pseudônimo do pseudônimo~
Sempre que se ouve falar de J. K. Rowling, cria-se uma grande expectativa. Afinal, a autora inglesa revolucionou o mundo literário com Harry Potter, uma das melhores séries do mundo. Especulava-se que ela não conseguiria superar seu primeiro sucesso. Ela surpreendeu o mundo quando, em 2012, anunciou seu primeiro romance adulto, Morte súbita. Porém, a surpresa maior veio em 2013 quando descobriu-se que o autor por trás de Robert Galbraith era ela. O Chamado do Cuco já estava bem cotado no Goodreads muito antes mesmo da informação vazar, comprovando que poderíamos esperar grandes histórias desse até então anônimo escritor de mistérios.
Robert Galbraith, porém, não é o único pseudônimo de Rowling. O próprio nome J. K. Rowling é um pseudônimo. Por volta de 1997, quando seu agente Christopher Little conversava com a autora sobre a publicação de Harry Potter and the Sorcerer's Stone, ele sugeriu que ela adotasse um nome neutro alegando que os garotos não leriam um livro escrito por uma mulher. Foi quando ela emprestou o nome Kathleen de sua avó paterna e passou a assinar J. K. Rowling. Durante os anos de publicação de Harry Potter, conhecemos Newt Scamander e Kennilworthy Whisp, autores respectivamente de Animais fantásticos e onde habitam e Quadribol através dos séculos. Os contos de Beedle, o Bardo é um livro com contos reunidos por J. K. Rowling como se fora dada a ela permissão do diretor de Hogwarts da época, Minerva McGonagall, de publicá-los em prol da instituição Children's High Level Group, a Lumos.
A vida de Robert Galbraith é permeada de segredos. O que se sabe ao seu respeito é que ele é um ex-militar e atualmente trabalha com segurança civil, precisando de toda a discrição possível, o que tornou fácil com que obtivesse informações sobre como opera e investiga a Sessão de Investigação Especial (SIB), lhe permitindo escrever o primeiro livro da série Cormoran Strike sobre o qual eu comento a partir de agora.
~A janela abriu, a Cuco caiu~
O que eu sei sobre os relógios cuco é que um mecanismo empurra o pássaro para fora de uma janela e logo depois o recolhe até que uma nova hora precise ser anunciada. Foi através de uma sacada que a supermodelo Lula Landry, também conhecida como Cuco, caiu para a morte no que a polícia e a imprensa qualificaram como suicídio. Porém, seu irmão, John Bristow, não acredita nessa versão e contrata Cormoran Strike para investigar o que de fato aconteceu com Lula no seu último dia de vida. John procura Strike porque o detetive fora amigo de infância de Charlie, seu falecido irmão. A princípio, Strike reluta em aceitar o cargo, mas as dificuldades financeiras por que passa somada aos seus problemas sociais mais prementes o fazem pensar melhor.
(...) Foi só quando chegou à porta de vidro no andar de cima que Robin percebeu, pela primeira vez, a que tipo de empresa fora enviada para auxiliar. Ninguém na agência lhe dissera. O nome no papel ao lado da campainha estava gravado no vidro: C. B. Strike e, abaixo dele, as palavras Detetive Particular.
Página 21.
Apesar do foco principal do livro ser a investigação do último dia de Lula, ele não se sustenta somente nesse pilar. Strike acaba de sair da casa de sua noiva Charlotte com quem estava junto durante anos e, sem ter para onde ir, passa a ter uma subvida morando no escritório em que trabalha. Ele é filho de um homem famoso que mal vira durante seus trinta e cinco anos de vida, mas a fama do pai o ofusca quando as pessoas descobrem sobre sua origem familiar.
Robin passa a trabalhar para Strike por um erro da parte dele, que pensava ter cancelado o contrato com a agência de temporários por não ter como pagar. Eu gostei bastante de Robin. Ela é aquela pessoa que está indecisa entre seguir as incertezas de um sonho e a segurança e estabilidade de um emprego comum e tedioso. Sua participação poderia ter sido maior, mas sempre que apareceu foi essencial para fazer com que Strike desse o próximo passo na investigação.
~Narrativa investigativa~
A narrativa é em terceira pessoa, transitando pelo menos oitenta porcento por Strike e os vinte restantes por Robin. E ela é lenta, precisa ser lenta. O que para alguns pode ser um ponto negativo, para mim foi essencial para perceber detalhes que talvez me escapassem se a narrativa fosse mais visual. Strike investiga praticamente todos os que tiveram contato com Lula, porém todas essas pessoas trazem informações cruciais para nos atiçar a seguir em frente e criar nossa teoria do que aconteceu. Robert me fez ter três suspeitos, para dois deles eu conseguia elaborar uma motivação que os fizesse empurrar Lula através daquela sacada. Mas não conseguia pensar em algo além do que foi sugerido por um outro suspeito.
Uma outra coisa que eu gostei bastante foi o tom de humor. Está muito bem trançado nas páginas e a gente se pega rindo do nada, porque não fica aquela sensação de que ele foi forçado. Num momento, Strike está matutando sobre como cobrar os clientes que não lhe pagaram e, no outro, está simplesmente cutucando o nariz quando John Bristow entra na sala para conversar com ele (página 28). Robert começa sua história de maneira bem agradável e ela vai melhorando a cada página até chegar este momento em que a gente quer correr na leitura para saber como Cormoran explicará o que descobriu. A propósito, tenho minhas suspeita de que o detetive já sabia há muito tempo quem fora o responsável pelo que houve com Lula.
~Concluindo~
Se vocês forem capaz de deixar de lado a autora J. K. Rowling e encararem este livro como escrito por uma outra pessoa, acredito que apreciarão melhor a história e evitarão comparações desnecessárias. Digo isso porque ao ler Morte súbita minha decepção foi muito grande não por esperar Harry Potter, mas por quase não reconhecer a autora naquelas páginas. Se tivesse encarado aquele livro de alguma forma diferente, talvez tivesse apreciado mais. Porém, com O Chamado do Cuco, tive em mente que estava lendo o primeiro livro de um estreante, muito bem escrito e instigante. O final do livro já pincela alguns pontos a se esperar no próximo livro.
Agora, minha torcida é para a Rocco mexer os pauzinhos e tentar trazer o segundo livro da série ao mesmo tempo em que ele for lançado no exterior, em 2014. Robert Galbraith já finalizou a sequência e eu mal posso esperar para lê-la!
(...) Escreveram que ela era desequilibrada, instável, inadequada para o superestrelato em que a rebeldia e a beleza a capturaram; que passara a andar com uma classe endinheirada e imoral que a corrompera; que a decadência de sua nova vida atordoou uma personalidade já frágil. Ela se tornou uma densa fábula moral de Schadenfreude, e tantos colunistas fizeram a alusão a Ícaro que a revista Private Eye publicou uma matéria especial.
Páginas 13 e 14.