quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Resenha | Ensaio sobre a cegueira

Ensaio sobre a cegueira
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras.
Páginas: 312.
ISBN: 9788571644953.
Skoob

Sinopse:

Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O "Ensaio sobre a cegueira" é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Olá, pessoal! Hoje eu vou comentar sobre um livro que há alguns anos eu ouvi falar por conta do filme de mesmo nome. Ensaio sobre a cegueira não é um livro que eu normalmente leria, mas a resenha da Alba e Tierno no Psychobooks me deixou bem curioso a respeito da leitura.

(...) Nada, vejo sempre o mesmo branco, para mim é como se não houvesse noite.
Página 18.

Um motorista descobre-se cego num semáforo. Diferentemente do que se supõe, ele não passa a ficar imerso num mundo de trevas. Sua cegueira é diferente, é branca - como se ele tivesse mergulhado os olhos em leite. Ajudando por um homem, ele consegue voltar para casa. Mas quando resolve sair para uma consulta médica, descobre que o "bom samaritano" na verdade é um ladrão e sumiu com seu carro. Tirando o fato de não enxergar nada, os olhos do homem estão sem qualquer sinal de problema. Ele volta para casa.

É então que o mal branco começa a se espalhar. Todas as pessoas que tiveram contato com o homem do carro são contagiadas e as pessoas que têm contato com esses também. O médico, porém, usando sua ética acaba informando às autoridades sobre o risco de uma epidemia. O governo, então, arruma uma solução paliativa para o problema: colocar as pessoas contaminadas em quarentena. No entanto, a mulher do médico, por alguma razão misteriosa, é imune à cegueira. Fingindo que não enxerga, ela acompanha o marido e vê até onde o ser humano é capaz de ir em situações extremas.

A narrativa do autor é algo bem diferente do que eu estou acostumado a ler. Conhecê-la foi ótimo para sair da zona de conforto e me desafiar mais como leitor. E Saramago apresenta muitos desafios. O primeiro é se acostumar com a ortografia. Por desejo do autor, Ensaio foi publicado com o português de Portugal. Há algumas estranhezas a princípio, mas depois que se acostuma a leitura flui naturalmente. Os diálogos são todos inseridos nos parágrafos, sem traços marcando-os. E vários parágrafos são grandes; alguns chegam mesmo a ocupar duas páginas.

Muitas das situações apresentadas são bem angustiantes e me causaram muito incômodo. O homem é reduzido a uma coisa quase animalesca; demora a perceber a necessidade de ter com quem contar, o quanto é preciso ter suporte. Alguns momentos seriam cômicos em outros livros, mas neste o autor não quer que a gente ria. Quer que a gente pense e questione. Cito, por exemplo, a passagem em que o médico e a esposa do médico conversam sobre se limpar após ir ao banheiro. Imagina você não conseguir cuidar das suas necessidades mais básicas?

Eu não consigo imaginar, no mundo de hoje, algum lugar que mantenha pessoas trancafiadas por qualquer que seja o motivo. O mundo é grande, culturas são tão diferentes uma das outras. Isso acontece? Talvez. A história já nos mostrou judeus trancafiados em campos de concentração. Quem leu O menino do pijama listrado? Dá até um certo medo imaginar que o governo pode ter um poder tão grande assim para trancar as pessoas por causa de alguma situação em que elas se encontram.

Recomendo muito a leitura para quem quer sair da zona de conforto. Repito: não é uma leitura fácil, mas vale muito!

Curiosidade: Ensaio sobre a cegueira foi o primeiro livro cadastrado no Skoob.

(...) Há muitas maneiras de tornar-se animal, pensou, esta é só a primeira delas. Porém, não se podia queixar muito, ainda tinha quem não se importasse de o limpar.
Página 97.

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